terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Assistente da ADRA fala da situação no Haiti

A destruição da capital do Haiti, no mês de janeiro, em decorrência de tremores de terra de grande magnitude, mobilizou o mundo inteiro. Uma das organizações não-governamentais engajadas foi a ADRA, a Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais que tem atuado em diversos países, inclusive em situações de emergência. Nesta entrevista, o brasileiro Richard Jaqua, assistente técnico de gerenciamento de emergência da ADRA Internacional, fala um pouco do trabalho no país da América Central. Ele concedeu a entrevista de Porto Príncipe, capital do Haiti, ao jornalista Márcio Basso, da Novo Tempo, por telefone, no dia 22 de janeiro.

ASN: Como estão as coisas aí?
Richard Jaqua: Complicadas. A demanda é grande, a destruição é incrível! Uma casa fica em pé e a outra é destruída. Muitas pessoas ainda estão soterradas. O pessoal de resgate normalmente trabalha em hotéis, onde tinham muitas pessoas, expatriados. As equipes de resgates menores trabalham onde podem ter pessoas. A essa altura não devem ter mais sobreviventes. As pessoas que são encontradas estão mortas.

ASN: A ADRA estava implantada no Haiti antes do terremoto de 7 graus ocorrido dia 12 de janeiro? A sede foi afetada?
Richard Jaqua: A ADRA já tem presença aqui, mas o terremoto também afetou o escritório. O prédio da ADRA continua de pé, mas com algumas rachaduras. O terremoto destruiu uma cerca que havia ao redor da ONG, mas nós a colocamos novamente para proteger o que já temos e as doações que recebemos.

ASN: O que vocês estão recebendo?
RJ: Doações do governo americano e do governo espanhol, entre outras organizações. Já recebemos praticamente oito caminhões inteiros de água. Estamos também com uma equipe chamada Global Medic. Eles estão trabalhando tanto no Hospital como na Universidade Adventista. Na Universidade temos ao redor de 10 a 15 mil pessoas, já organizadas, onde nós distribuímos alimentos, que vieram do governo americano, da ONU (Organização das Nações Unidas) e de diferentes organizações.

ASN: Vocês ainda buscam sobreviventes?
RJ: Essas operações estão praticamente paradas, porque a chance de ter qualquer sobrevivente é extremamente baixa. A equipe de resgate da Colômbia que estava trabalhando com a gente já regressou ontem.

ASN: A equipe da ADRA está composta por quantas pessoas?
RJ: A equipe da ADRA Haiti tem cinco pessoas e ninguém ficou machucado, apenas uma pessoa machucou a mão, mas passa bem. A equipe que veio de fora, inicialmente, era composta por cinco pessoas. Depois chegaram mais duas da ADRA Espanha e agora começam a chegar outras mais, entre elas responsáveis pela ADRA na América Central e Caribe.

ASN: Qual é o principal foco da ajuda humanitária da ADRA neste momento?
RJ: Providenciar pontos de água potável, pois a água, ou está suja ou não há. As rachaduras fazem que a água saia por qualquer lugar e logicamente ela não está boa para beber. A nossa equipe colocou um desses pontos na Universidade Adventista do Haiti, e distribui água para mais de 1.500 pessoas por dia. A capacidade é de 5 mil pessoas. Decidimos também expandir os pontos de distribuição. Estamos utilizando, inclusive, motos, conectando-as para gerar energia para fazer o sistema funcionar.

ASN: Este projeto de purificação de água vai continuar?
RJ: Sim, e será expandido. Fora isso, temos distribuído alimentos, já que recebemos doações de diferentes países, em especial da República Dominicana. Mas o que estamos fazendo de forma especial é distribuir garrafas de água. Existem filas e filas de pessoas para obter água potável. No sistema que usamos, a água é mais limpa da que se compra em garrafa. Fora isso, tentamos organizar os banheiros. Imagine 10 mil pessoas num local sem latrinas. Já fizemos alguns buracos, mas este é um projeto que estamos iniciando.

ASN: O que está sendo feito no Hospital Adventista do Haiti?
RJ: Eu acredito que entre 1.500 e 2 mil pessoas estão recebendo água e alimentos ali. Vários médicos voluntários que têm chegado dos EUA, Espanha e outros países, trabalham com a equipe local. Eles têm enfrentado muitas dificuldades, visto que não tinham equipamentos para fazer amputações, e tiveram de utilizar o mínimo de recursos possíveis no início. Chegaram a usar uma cerra de cortar cano para fazer as cirurgias.

ASN: Vocês têm medo de novos terremotos?
RJ: Há dois dias teve um tremor de 6,1 na escala Richter, durante 4 a 5 segundos. Todos saíram desesperados do hotel em que estamos. Ontem à noite os tremores começaram com mais frequência e tivemos de sair correndo do hotel. Hoje de manhã já aconteceram dois: um enquanto estávamos no hotel e outro aqui já no escritório da ADRA. As pessoas que conhecem dizem que o primeiro é o mais forte, e nenhum deles é tão potente como ele. Estamos tentando lidar com isso, mas ainda existe medo. Há riscos de os haitianos voltarem para casa. Algumas casas estão de pé e eles poderiam voltar, mas têm medo.

ASN: A ADRA presta auxílio psicossocial?
RJ: Um dos projetos é conceder este tipo de amparo aos afetados, mas nessa primeira instância estamos apenas respondendo as urgências, que são água, saneamento, comida e abrigo. Este aspecto é extremamente importante, pois alguns estão ao relento ou com alguns panos e plásticos que podem encontrar. Uma das necessidades é de se obter barracas, pois há famílias de cinco, seis ou sete pessoas que não têm uma cobertura.
Essas são as respostas que nós da ADRA estamos dando, aumentando o número de beneficiários a cada dia. Hoje nós estivemos em um lugar que aparentemente ninguém está trabalhando e a necessidade é grande.

Fonte: [ http://www.portaladventista.org/portal/asn---portugu/2269-assistente-da-adra-fala-da-situacao-no-haiti ]

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